
Os fãs do faroeste clássico vão embarcar em uma viagem maravilhosa do início ao fim, ao assistirem essa narrativa.
O filme nos apresenta o protagonista Theeb (Jacir Eid Al-Hwietat), o caçula de três, filho do Sheik de sua tribo, já falecido. Ele é um garoto vivendo uma infância entediada e transbordante de curiosidade, transformando qualquer possível aventura em um ímã. Com a chegada de um militar inglês, Edward (Jack Fox), a curiosidade de Theeb o deixa obcecado por aquele homem tão diferente. Edward precisa de um guia pelo deserto e o melhor é o segundo filho do Sheik, Hussein (Hussein Salameh Al-Sweilhiyeen), que é o companheiro inseparável de Theeb. Hussein decide sair com Edward e seu tradutor para guiá-los pelo deserto, deixando Theeb com sua curiosidade e solidão o devorando por dentro, e obviamente o garoto vai atrás deles. A impaciência de Edward faz com que Hussein não possa voltar com Theeb para deixá-lo em sua tribo novamente, logo ele se une aos três e eles seguem em viagem. No momento em que a jornada deixa de ser segura e a ignorância de Edward coloca todos em perigo eles são emboscados e Theeb vê sua ingenuidade de garoto ser tomada violentamente.
O gênero desse filme é faroeste, e é incrível, pois a linguagem é exatamente como a dos faroestes antigos, com planos longos e panorâmicos mostrando o enorme contraste do homem com a natureza, formando pouco a pouco no protagonista o arquétipo do sobrevivente, mas a temática é completamente nova. Aqui não se trata do pano de fundo histórico yankee da colonização do oeste, mas sim da travessia de um soldado inglês pela Argélia na primeira guerra mundial para alcançar a ferrovia, ainda em construção, e chegar à suas tropas com um pacote secreto. A clássica temática da vingança guia a segunda metade do filme, com a também clássica transmissão de poderes, por assim dizer. Nos faroestes, o vilão sempre assassina alguém querido do protagonista e assim desperta um desejo de vingança, e pouco a pouco o vilão fica mais humano, caloroso e simpático enquanto o protagonista vai se tornando frio, desumano e difícil de se identificar. Ao matar o vilão, o protagonista encerra o ciclo, estabelecendo-se como o ser superior, como o homem, o alfa, e o filme acaba. A temática da solidão também está presente, ilustrada poeticamente nas imagens grandiosas do deserto, a vida dos bandidos, assassinos e sobreviventes, vazia, infértil, triste, intimidadora. O close nos olhos, mostrando a resolução do personagem, a consciência do próprio destino, clássica demais, também marca presença.
A simbologia do filme é de lamber os dedos, finger-licking-good! O primeiro elemento é o poço de onde os nativos do deserto retiram sua água diária, simbolizando obviamente a nova vida, o renascimento. Quando Theeb e sua campanha de cameloboys (cowboys de camelo) é emboscada e morta, ele cai dentro do poço na tentativa de fugir, lá ficando escondido. No dia seguinte ele consegue escalar o poço e sair dele, simbolizando isso o renascimento dele enquanto homem. No entanto ele não quer ser um homem, é apenas um garoto, sua maturidade foi forçada contra ele, não está pronto, não quer se despedir de seu irmão Hussein, não quer aceitar a morte, precisa lidar com a morte primeiro. Então, meus amigos, quem surge? Ele, o homem que matou seu irmão, desmaiado pela desidratação e abandonado por seus companheiros mercenários, por ter sido atingido na perna, todo vestido de preto, com uma feição imponente e serena. Interpretado por Hassan Mutlag Al-Maraiyeh, esse homem simboliza quem, pelo amor de Deus? Você sabe quem. Se você pensou “a morte”, acertou meu querido. Theeb então precisa lidar com a morte, com o luto de seu irmão, com a responsabilidade que reside em seus ombros, agora que seu irmão se foi, porque ele é o novo guia, o novo sucessor do cargo de Sheik de sua tribo, isso se ele conseguir retornar para sua tribo.
O homem de preto era um guia como Hussein e se tornou um mercenário porque a industrialização revolucionou o transporte, tornando o trabalho dele obsoleto. A história do homem de preto vai o tornando simpático e humano, como foi dito, apenas para no momento em que ele é morto para fechar o ciclo de vingança, para ele se redimir com a platéia. O último momento simbolicamente forte do filme é quando os dois estão em uma base trocando espólios do falecido Edward por moedas e o soldado responsável pela base oferece uma moeda para o “garoto” Theeb, que recusa, por quê? Porque ali, naquele momento, ele deixou de ser um garoto. E na cena seguinte, do lado de fora da base, temos um close dos olhos de Theeb quando ele enxerga claramente seu destino, abraça sua frieza, aceita a responsabilidade de homem que agora ele possui, e mata o homem de preto, fechando o ciclo de luto.
Um faroeste reinventado e poeticamente impressionante. Imperdível!
Nota ★★★★★ • Texto Escrito por Lucas Simões • Revisão de Texto por Kamila Wozniak
FICHA TÉCNICA
Lançamento: 18 de Fevereiro de 2016; Duração: 1h 40min; Gênero: Drama e Aventura; Direção: Naji Abu Nowar; Elenco: Jacir Eid, Hassan Mutlag, Hussein Salameh e Jack Fox.
SINOPSE
O jovem Theeb inicia uma perigosa jornada junto a tribo beduína que vaga pelo deserto da Província de Hejaz, localizado no Império Otomano. O menino passa seus dias brincando com o irmão mais velho Hussein. A vida dos viajantes muda com a chegada de Max e Marji, um oficial do exército britânico e seu guia. Eles pedem o auxílio do grupo para localizarem um poço romano que encontra-se em um perigoso território de caça.
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